sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Serra do Rio do Rastro - Santa Catarina - BR


Juntamente com a Serra do Corvo Branco (pouco mais ao Norte, entre Urubici e Grão Pará), a fantástica Serra do Rio do Rastro, tem as estradas mais sinuosas e íngremes do Brasil. O espetáculo que se descortina desde o mirante, com cerca de 1460 m de altitude é de uma beleza cênica inigualável. Pertence ao município catarinense de Lauro Müller( no sentido do litoral, já na baixada litorânea), perto do de Bom Jardim da Serra (este a Oeste da serra), que tem uma das mais belas denominações de um município brasileiro. Não cometa o erro geográfico frequente de achar que a área da Serra do Rio do Rastro é do município de Bom Jardim da Serra ( tal como a Serra do Corvo Branco que não está em Urubici, mas sim no de Grão Pará).Mas não estará de todo modo errado aqui, pois as porções planas e mais altas, são de Bom Jardim da Serra e as encostas, do de Lauro Müller.

São cerca de 12 km em subidas e descidas, de deixar todos sem folego e com as pernas bambas (outras coisas também) numa estrada repleta de história, num dos raros acessos rodoviários cortando a Serra Geral, entre o litoral e a serra catarinense( sentido L-W), caminho de muitas tropas cargueiras no passado, onde os muares provavelmente escolheram os primeiros caminhos da passagem, um “passo” lhe essa denominação lhe dá uma melhor idéia da Serra do Rio do Rastro. Escolha de caminhos mais seguros é tipicos desses animais dotados de inteligencia e conhecimento de áreas de precipícios, transportando no passado produtos pecuários (da serra, charques, lãs, queijos e do litoral sal e diversos produtos tais como frutas, tecidos, remédios, documentos,etc), numa subida extenuante, num ambiente sempre frio, úmido e ventoso, quando em certas ocasiões, provocou grande mortalidade dos valentes animais de carga por fadiga, choques térmicos,oscilações rápidas de um microclima dinâmico e severo como poucos.

Posteriormente, a rodovia foi concretada na década de 80 devido a inclinação e fortes curvas, que não permitiram o uso de máquinas asfaltadoras nessa estrada que muito se reza e que se você estiver descendo, lamentará não ter comprado mais fraldas lá em Bom Jardim da Serra. Subindo então, dobre a atenção, pois a gravidade favorece quem desce. Fique tranquilo que raros são os acidentes por aqui, pois manter sempre a máxima atenção, mesmo o mais veterano dos motoristas sempre põe em prátic. Lembre-se que o local é por demais belo para lembranças trágicas. Mantenha-se atento e saia da mesma forma que entrou nessa estupenda estrada, mas com a alma cheia de belíssimas imagens e o coração já sentindo saudades antes mesmo de terminar a passagem.

Visitar a Serra Catarinense e não conhecer esse "perau" ( termo sulino para abismos)é ir até Roma e não ver o Papa ou ao Rio sem ver a praia. O turismo ainda espera melhores condições da infra-estrutura regional (pólo na cidade de Lages) para finalmente, fazer jus a excepcional beleza das escarpas da Serra Geral, cicatriz da separação entre os continentes africano e sulamericano.

Observe também nas serras catarinenses a presença que praticamente define do ponto de vista botânico as grandes escarpas da face Leste do planalto catarinense, a presença de um fóssil vivo, planta originária dos Andes (migração em tempos remotos), possivelmente a maior folha da vegetaçao brasileira, a Gunera manicata, urtigão, que adora um precipício, juntamente com uma pequena planta de flores predominantemente vermelhas, as Sinningias, abundantes na subida,conhecidas como “Rainhas dos Abismos”.

Em todos os meses do ano, tome extremo cuidado com a presença de gelo na pista, pois como a área é rica em água, muitas vezes pequenas nascentes cortam a rodovia e você está distraído com a paisagem e ainda não tem experiencia em dirigir sobre a rainha das superfícies naturais , extremamente lisa. É comum durante as fortes ondas de frio, ter parte da estrada, como uma grande língua , quando a água atravessa a estrada e que praticamente todo o dia permanece congelada. Todo cuidado e pouco, principalmente se é a sua primeira passagem. Não se assuste, pois no outro sentido, pode ser que o motorista, neófito na area como você, se assuste mais ainda.Não pise no freio em hipótese alguma.

Finalmente, pare no topo como todo turista, no mirante e agradeça aos deuses por estar aqui. Se subiu com o carro fechado e climatizado, não seja rabugento e fuja do lugar comum, não reclamando do frio, do vento e se alguem de sua família indagar que aroma é esse, responda que é ar puro. É algo por demais singular, sentir o ar puro que sobe os vales do Rio do Rastro. Mas cuidado por onde pisa. Como o ar é puro, não produza outros aromas, principalmente na época de sapecadas de pinhões, na festa nacional em Lages.

Se der tempo entre os disparos da máquna fotográfica e encentivo para a sogra se aproximar um pouco mais desse tal de “perau”, mude um pouco o seu olhar para a incrível paisagem aberta a sua frente e perceberá que a serra toda é uma sucessão de vários derrames vulcânicos (como um grande sanduiche de pão de forma, cada qual com suas caracteriísticas distintas, tais como idade geocronológicas ( em torno de 130 milhões de anos), tipos de rochas, espessura, tonalidades, etc. São facilmente observáveis pela vegetação, que preferencialmente se desenvolveu entre os contatos, área mais vulnerável ao intemperismo e propícia a formação de solos, além da origem das nascentes de água.

A flora da região, que nas porções de serra acima, como os sulistas gostam de chamar os campos naturais, há o domínio da vegetação gramíneo-lenhosa (savanas), que luta uma guerra em silencio, com a exuberante e tão bela quanto, a Floresta Ombrófila Mista- Alto Montana, mais conhecida carinhosamente de Mata das Araucárias, onde as porções mais inclinadas e solos mais pronunciados, são domínio das matas. E lá no topo, nas “planuras” é terra da gramíneas, ciperáceas, compostas, orquídeas e milhares de espécies, atualmente tão vulneráveis, já que os campos e a rica cultura associada a esse bioma, desaparecem como as boas recordações da vida.O embate da vegetação é resultado das mudanças climáticas desde a última grande glaciação, à cerca de 11.500 anos antes do presente, mas que você sabe que a origem da Mata Atlâtica é de milhares de anos.

O rio do Rastro- não queira conhecê-lo diretamente- bem entendido, está escondido e como não poderia deixar de ser, tão belo como a escarpa da qual se origina.Escute o movimento da água e guarde o som por vários anos, pois em algum momento, será o seu melhor remédio.
A serra recebe o nome do rio que escavou pacientemente os extensos derrames de lavas vulcânicas, uma das consequencias da separacao do grande continente de Gondwana, que ligava essencialmente a America do Sul, com a África e Antártica/Austrália, quando da abertura do Oceano Atlântico.

Em Alguns trechos, você não saberá se um veículo está subindo ou descendo.Todavia, prepare-se se for um ônibus ou caminhão. Massa por massa, embora você tenha exagerado na culinária gaúcha-catarinense, lembre-se que ele e um pouco maior que você.

Voltando a Serra do Rio do Rastro (também nome de uma unidade geólogica da Bacia Sedimentar do Paraná), um dos fenomenos mais característicos dessa escarpa, são as correntes atmosféricas martimas, que ascendendo a serra, resfriam-se, pois carregadas de umidade, condensam-se, num fenoômeno que o povo serrano chama de “viração” da serra. Isso ocorre, preferencialmente no meio da manhã e a tarde, dependendo das correntes atmosfericas (temperatura, direção dos ventos) e que praticamente ocorrem todos os dias em determinadas épocas do ano.

Informe-se com a população regional sobre o melhor horário para visitar a Serra do Rio do Rastro, onde no inverno é de se perder de vista.
Insisto, que escolha o melhor horário para a visita. Caso contrário, poderá dizer lá na sua casa que passeiou dentro de uma nuvem na Serra do Rio do Rastro.

Nos últimos anos, através de uma torre de energia eólica, toda a estrada em seu trajeto da serra, está iluminada, produzindo belíssimas imagens de brumas lutando com as luzes.

A Serra do Rio do Rastro e a rodovia que corta essa dadiva divina, e um daqueles locais que devemos conhecer obrigatoriamente, antes de buscarmos outros paradouros celestes ou aqueles bem mais aquecido

A Serra do Rio do Rastro acha-se ligada a muitos aspectos históricos, econômicos e turísticos da região de Orleans - Lauro Müller, onde o nome de diversos de seus topônimos tornou-se bastante familiar aos geólogos brasileiros, por terem passado a designar unidades estratigráficas de ampla distribuição na Bacia do Paraná, como a própria Formação Rio do Rasto, e os topônimos dos rios Bonito e Passa Dois, as localidades de Guatá e Palermo, além de outras designações como Tubarão e Estrada Nova.

A estrada que percorre a Serra é um trecho da rodovia SC-438, que, partindo de Tubarão, próximo ao litoral de Santa Catarina, e passando por Orleans, Lauro Müller, Bom Jardim da Serra e São Joaquim, chega até Lages, no planalto catarinense.

A relação da região com o setor mineral brasileiro data de 1841, quando a presença de carvão de pedra foi constatada por técnicos e cientistas brasileiros e estrangeiros em missão do Governo Imperial Brasileiro. Em 1903, o então Governador Vidal Ramos inaugura uma estrada que partindo da atual localidade de Lauro Müller, permite o acesso até São Joaquim e Lages (a "Estrada Nova").

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